DAN BROWN em "Anjos e Demônios" (Cap. 94)

"A ciência pode ter aliviado os sofrimentos das doenças e dos trabalhos enfadonhos e fatigantes, pode ter proporcionado uma série de aparelhos engenhosos para nossa conveniência e distração, mas deixou-nos em um mundo sem deslumbramento. Nossos crepúsculos foram reduzidos a comprimentos de ondas e frequências. As complexidades do universo foram desmembradas em equações matemáticas. Até o nosso amor-próprio de seres humanos foi destruído. A ciência proclama que o planeta Terra e seus habitantes são um cisco insignificante no grande plano. Um acidente cósmico... Até a tecnologia que promete nos unir, ao contrário, só nos divide. Cada um de nós está hoje eletronicamente conectado ao globo inteiro e, entretanto, todos nos sentimos sós. Somos bombardeados pela violência, pela divisão, pela desintegração e pela traição. O ceticismo passou a ser uma virtude. O cinismo e a exigência de provas para tudo converteram-se em pensamento esclarecido. Alguém ainda se admira que hoje as pessoas se sintam mais deprimidas e derrotadas do que em qualquer outra ocasião da história do homem? (...)
[A ciência] Despedaça o mundo de Deus em parcelas cada vez menores em busca de significados e só encontra mais perguntas. (...)
As promessas da ciência não foram mantidas. As promessas de eficiência e simplicidade resultaram somente em poluição e caos. Somos uma espécie despedaçada e frenética, seguindo um caminho que leva à destruição. (...)
Quem é esse deus-ciência? Quem é esse deus que oferece poder a seu povo, mas nenhuma estrutura moral para lhe dizer como usar este poder? Que tipo de deus dá fogo a uma criança, mas não avisa sobre seus perigos? (...)
Promovem o aumento das armas de destruição em massa, mas é [a igreja] quem tem de viajar pelo mundo suplicando aos líderes que tenham prudência. (...) Incentivam as pessoas a interagir através de telefones, telas de vídeo e computadores, mas é a igreja que abre suas portas e nos lembra de comungar aqui, no mundo real. (...) Mostrem-nos uma prova da existência de Deus, dizem vocês. E eu respondo, usem seus telescópios para olhar o céu e me digam como é possível não haver um Deus! (...)
Vocês proclamam que a menor alteração na força da gravidade ou no peso de um átomo teria convertido nosso universo em uma névoa sem vida em vez do magnífico mar de corpos celestes que contemplamos, e ainda assim deixam de ver a mão de Deus nisso? (...)
A fé, todas as formas de fé, são advertências de que existe algo que não podemos compreender, algo a que temos que responder. (...)
A RELIGIÃO É FALHA, MAS SÓ PORQUE O HOMEM É FALHO.
Se o mundo exterior pudesse ver esta igreja como eu vejo, além do ritual de dentro dessas paredes, veria um milagre moderno, uma fraternidade de almas imperfeitas e simples, querendo apenas ser uma voz de compaixão em um mundo do qual se está perdendo o controle. (...)
Será que realmente precisamos de almas como essas que, apesar de imperfeitas, passam a vida nos implorando para seguirmos as diretrizes da moralidade e não nos desviarmos do nosso caminho?"
 
Voltar ao topo